Amantes do turismo de natureza estão a ser desafiados por empresas a participar na campanha SOS Cagarro
A campanha SOS Cagarro desafia todos os anos centenas de açorianos a participarem nos meses de outubro e novembro em ações de resgate aos cagarros juvenis que deixam os ninhos e que, muitas vezes, não conseguem fazer o seu ‘voo inaugural’ para o mar e para a sobrevivência, ao serem encandeados pela iluminação das localidades, o que leva à sua queda e possível morte.
Muitos açorianos já resgataram cagarros caídos e devolveram-nos ao mar ao longo dos 22 anos em que esta campanha decorre, mas agora são os turistas que estão a ser desafiados para o fazer, sendo que o que resgate de cagarros começa a ser vendido como um produto turístico para amantes da natureza.
Desde o ano passado que está a verificar o surgimento de pacotes turísticos direcionados às campanhas de salvamento de cagarros oferecidos pelas empresas ligados ao ecoturismo, seja na animação, seja no alojamento e que podem mesmo incluir deslocações de jipe com refeição, com o objetivo de salvar cagarros.
Um produto que tem nos alemães, nórdicos ou britânicos importantes mercados-alvo, com potencial a explorar. No entanto, este processo ainda está muito no início por parte das empresas e nem o Governo tem dados concretos sobre o número de turistas que já integram as ações de salvamento de cagarros, uma vez que essas ações tanto podem ser organizadas e, portanto, mais fáceis de contabilizar, como podem ser espontâneas e individuais, o que torna mais difícil a sua contabilização. Mas o potencial existe e o governo quer estimulá-lo como mais um atrativo turístico – ainda que de nicho - para a chamada época baixa. “Estamos a iniciar este processo que deve começar a entrar mais nas ofertas das empresas e penso que este é um produto que se pode começar a diferenciar no conjunto dos produtos que a Região oferece em termos de ecoturismo”, afirma em declarações ao Açoriano Oriental o diretor regional dos Assuntos do Mar, o departamento do Governo dos Açores que coordena esta campanha anualmente.
Para Filipe Porteiro, este pode ser um produto turístico associado a outro que também está a ganhar importância nos Açores, a observação de pássaros (birdwatching). E também as empresas de aluguer de automóveis estão a ser sensibilizadas para este novo produto, através da disponibilização aos seus clientes nesta altura do ano de informação sobre a Campanha SOS Cagarro, numa tentativa de despertar o seu interesse e estimular os turistas a participar nas ações de salvamento desta ave migratória que chega todos os anos aos Açores com cerca de 200 mil casais entre os meses de abril e outubro para se reproduzir.
Este ano e ao contrário do ano passado, a Campanha SOS Cagarro está a registar um número bastante inferior de resgate de cagarros - e está prevista acabar já na próxima quarta-feira, 15 de novembro - um fator que se pode dever, quer às boas condições que a lua cheia do início deste mês proporcionou para a saída dos cagarros juvenis dos ninhos sem que as luzes das localidades os encandeassem – o que é pouco provável - quer à possibilidade de se ter verificado este ano uma baixa na reprodução dos cagarros, depois do ‘pico’ verificado no ano passado, sabendo-se que os níveis de reprodução desta espécie não parecem ser sempre iguais todos os anos e têm ciclos altos e baixos.
Caso surja um novo ‘pico’ de resgates de cagarros nos dias finais da campanha até ao dia 15, esta poderá eventualmente ser alargada mais alguns dias.