A variabilidade detectada na ocorrência e nas concentrações de nas lagoas de S. Miguel, mesmo nas menos eutrofizadas, veio suscitar a necessidade de pesquisa destes compostos em lagoas de outras ilhas do Arquipélago dos Açores, nomeadamente nas que são consideradas em situação de maior vulnerabilidade como as da Ilha do Pico. Com essa finalidade, foram realizadas quatro campanhas de amostragem em 2009, uma por estação do ano, que incidiram sobre as lagoas do Capitão, Caiado, Rosada e Peixinho, sendo os resultados obtidos apresentados no Relatório Final do Estudo da Toxicidade Associada ao Desenvolvimentos de Cianobactérias nas Lagoas do Capitão, Caiado, Peixinho e Rosada, desenvolvido pela Universidade Nova de Lisboa em colaboração com a Direcção Regional do Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos.
A partir dos resultados obtidos, em 2009, para os parâmetros abióticos que permitem a determinação dos índices parciais de estado trófico de Carlson (TSI), as lagoas do Capitão e Peixinho foram as que apresentaram valores de TSI mais elevados ao longo de todo o ano, podendo ser classificadas como eutróficas, e indicando já a existência de uma transição para a hipertrofia. As lagoas do Caiado e Rosada apresentaram uma água de melhor qualidade, podendo ser classificadas como oligotróficas.
A pesquisa de toxinas de cianobactérias comprovou a existência de microcistinas em todas as amostras recolhidas nas lagoas do Capitão e Peixinho. Das amostras recolhidas apenas duas, uma de cada lagoa, recolhidas na amostragem de Verão, apresentaram toxinas em solução. Também nas lagoas Rosada e Caiado, das cinco amostras da primeira lagoa e quatro da segunda que foram analisadas, duas, as da amostragem de Verão, apresentaram toxinas em solução e em quatro foram encontradas toxinas intracelulares, duas de cada massa de água.
As maiores concentrações de microcistinas totais foram registadas nas lagoas do Capitão e Peixinho, em todas as estações do ano. Nas lagoas Caiado e Rosada os valores encontrados foram significativamente mais baixos.
Conforme já referido em anteriores relatórios, ainda não são completamente conhecidas as condições ambientais que levam as cianobactérias a produzirem toxinas, nem o que leva espécies de determinados géneros a sintetizarem quantidades umas vezes mais elevadas que outras. É difícil entender porque não foram detectadas toxinas na Lagoa do Caiado, no Inverno, mesmo na presença de um “bloom” de Microcystis pulvurea (36x106cel.L-1), quando na Lagoa do Capitão, situada a pouca distância e com um desenvolvimento menos intenso de Anabaena aphanizomenoides (29,5x106cel.L-1), se encontraram quantidades significativas de microcistinas. Ambos os géneros incluem espécies produtoras de toxinas. Poder-se-ia concluir que as espécie de Microcystis encontradas na Lagoa do Caiado, neste período, não eram tóxicas, mas esta conclusão não pode ser definitiva porque podem ter sido apenas as condições ambientais prevalecentes no Inverno, nesta massa de água, que não favoreceram a produção daqueles compostos. Com efeito, nesta mesma lagoa, no Verão e Outono, com densidades de cianobactérias muito menores e tendo sido identificada uma outra espécie de Microcystis (Microcystis delicatissima) cuja toxicidade não está comprovada, foram detectadas microcistinas.
Finalmente, a ocorrência de florescências de cianobactérias em três das lagoas da Ilha do Pico e a detecção de microcistinas em todas elas, justificam a necessidade de acompanhamento futuro destas massas de água, sobretudo as que são utilizadas para consumo humano ou mesmo para uso agro-pecuário.