A freguesia da Achadinha assinala o quingentésimo aniversário do concelho do Nordeste com algumas exposições alusivas à história, ao património cultural e às vivências da freguesia.
Os trabalhos expostos resultam de uma parceria entre a Câmara do Nordeste e a Junta de Freguesia da Achadinha, com a participação ativa de pessoas da freguesia e de outras instituições do concelho, estando patentes ao público desde as festividades de Nossa Senhora do Rosário cujo ponto alto teve lugar no passado fim-de-semana.
Uma das exposições, a decorrer no Centro de Convívio de Idosos da Achadinha, sob o tema “Costumes, Artes, Ofícios e Vivências”, conduz o visitante ao reencontro com memórias perdidas, e a reviver emoções e afetos esquecidos na lonjura dos anos, com o desafio de que constitua um principio para a construção de pontes para o futuro, que despertem o interesse pelo conhecimento da grandeza das origens, para a riqueza dos saberes dos pais e avós.
Assim é descrita a exposição na folha de sala que lhe serve de suporte e condução pelos diferentes espaços de uma casa reconstruída com as vivências domésticas e do trabalho dos antepassados, independentemente da condição social de quem a habita.
Podemos assim encontrar na casa, a representação do quarto de dormir, do “meio da casa” (espaço que congregava várias atividades), os instrumentos do trabalho e os utensílios da cozinha.
Terras de Nosso Senhor e Caminho das Almas Antigas
Outra das exposições, instalada na Casa de Cultura João de Melo, faz memória às Terras do Nosso Senhor, uma antiga lomba entre a Salga e a Achadinha, estruturante na comunicação entre os dois lugares e que por assim ser ficou definitivamente marcada na história da Achadinha. Como podemos ver na exposição fotográfica, a este antigo caminho estão associadas algumas crenças populares, que dão conta de um trajeto percorrido por profundas e caudalosas ribeiras nos invernos, onde por obra divina se terá operado uma ponte natural que atravessa a Ribeira do Cachaço, sendo um fenómeno geológico ímpar na ilha de São Miguel, que só na segunda metade do século XIX viria a ter a atual ponte da Estrada Regional a montante.
No verão, a travessia da ribeira fazia-se a vau, entre as pedras fundas da ribeira. A Fonte do Canário, desde há muitos séculos referenciada como Fonte das Almas Antigas, encontra-se ao longo deste antigo caminho, assim como a Casa da Lavoura, conhecida como arribana do senhor padre, pois foi ali construída por um cura da Salga, para residência, sendo ele o administrador da propriedade local.
Esta vivência dos antepassados da Achadinha pelas Terras de Nosso Senhor pode ainda hoje ser vivenciada através de um percurso pedestre ali existente, a que foi dado o mesmo nome.
A Ribeira das Coelhas e a sua ponte neogótica - que se mantém nos dias de hoje - é também evidenciada na exposição, construída no século XVIII pelos capitães donatários, e senhores das lombas vizinhas, no antigo caminho real, que serviu as populações até 1925.
A devoção nos azulejos da fachada das habitações
Também na Casa de Cultura João de Melo, encontra-se em exposição um conjunto de fotografias de azulejos de temática religiosa comuns na fachada das habitações da freguesia, como testemunho público da religiosidade da população, ou dos seus antepassados. Numa freguesia com uma população que não atinge os 500 habitantes, não deixa de ser curioso que mais de meia centena de casas possuam santos em azulejo, como é evidenciado na informação complementar que acompanha a exposição.